domingo, 4 de junho de 2017

Uma experiência no PIBID




Hoje vou relatar uma experiência que vivi durante a minha graduação, que foi a participação no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID. O Instituto Federal da Bahia - IFBA, campus Santo Amaro, tinha um projeto voltado para a capacitação dos professores, de escolas municipais, estaduais e federais, para a utilização das tecnologias digitais. Os ministradores dos cursos para a formação dos docentes eram os bolsista do programa.
Trabalhar com educação não é uma receita de miojo, que é rápida, fácil e prática. A educação é muito complexa e envolve diversos fatores. Costumo dizer que a educação pode se assemelhar com um efeito dominó, pois se uma das partes não vai bem, tudo desmorona. E, assim, lhes digo que não foi nada fácil esse trajeto. Vamos começar falando das pedras que encontramos pelo caminho. A primeira pedra  foi a falta de infraestrutura das instituições de ensino, pois as de âmbitos estaduais e municipais não possuíam internet e nem computadores com boa conservação. Assim, como trabalhar em escolas em que os dois elementos essenciais faltavam? Nós, como alunos do curso de licenciatura em computação, dávamos o famoso "jeitinho" para que algumas máquinas funcionassem para o desenvolvimento das atividades.  A segunda pedra foi a resistência da gestão de algumas escolas, muitas vezes dificultando a liberação dos professores para os períodos de oficinas, eventos e cursos promovidos por nós. A terceira pedra foi a resistência da maioria dos docentes em aprender a utilizar os recursos digitais educacionais para utilizar em suas aulas, principalmente porque os laboratórios de informática o sistema, que as máquinas possuíam, era o Linux educacional 3.0, hoje já encontramos versões mais recentes desse sistema. Algumas falas que recordo são: "Não sei nem o Windows quanto mais o Linux, que é mais difícil."; "Já tenho tanto tempo na educação, estou perto de me aposentar, não quero nem mais saber de computador."; " Os meninos não se interessam, nem me preocupo mais.", dentre outras frases essas foram as que mais ficaram marcadas. Entendemos por essas colocações que muitos professores não têm a consciência do que é um sistema operacional livre e que seu uso é também um ato político, que nos remete muito ao conceito de produção de conteúdos de forma colaborativa, já que muitas versões de kernel Linux são elaborados por grupos de pessoas de várias parte do mundo. A produção desses sistemas é uma forma de compartilhamento de informações que chegam a um resultado, que é o conhecimento.
Diante do entendimento que alguns educadores não conheciam e possuíam uma grande resistência na utilização do sistema operacional que estava presente nas máquinas que funcionavam nas escolas, resolvemos capacitá-los para desconstruir a ideia que somente o sistema operacional pago, o Windows, era mais fácil e melhor. Infelizmente poucos professores aderiram a esse projeto.  Os que participaram, além de aprender a usar o Linux Educacional, conheceram outros softwares livres para, por exemplo, construir vídeos, elaborar quiz, caça palavras, jogos de perguntas e respostas e softwares para edição de texto, criação de planilhas eletrônicas e elaboração de slides (LibreOffice).
Será que os docentes possuem conhecimento da grande indústria que se tornou a venda de produtos digitais? Será que eles possuem consciência que estamos pagando para obter conhecimento? Acredito que falte políticas para capacitação dos professores das redes de educação, formando-os criticamente, para libertá-los da alienação, pois poucos professores sabem das grandes potencialidades e da questão política e social que está por traz dos softwares livres.
Por fim lhes digo que um programa de computador é um conjunto de instruções para realização de uma ação, logo a construção parte de uma sequência lógica. Os programadores, atualmente, compartilham partes de códigos que já foram construídas e que funcionam corretamente, assim, por exemplo, um programador de uma página web não precisaria construir um código para validação de CPF, pois outros programadores já fizeram isso e disponibilizaram. O mesmo funciona com códigos com erros, pois os programadores também disponibilizam esses algoritmos para que outros desenvolvedores corrijam. Com isso percebemos que a construção de um software é colaborativa, assim como deve ser a construção do conhecimento em rede.


Referências:

BENKLER, Y. A economia política dos commons. In: SILVEIRA, S (Org.). A comunicação digital e a construção dos commons: redes virais, espectro aberto e as novas possibilidades de regulação. São Paulo: Perseu Abramo, 2007.

BONILLA, Maria Helena. Software Livre e Educação: uma relação em construção.PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 32, n. 1, 205-234, jan./abr. 2014.

Um comentário:

  1. Bacana a experiência Jessica. Só discordo de você quando afirma que os professores são resistentes. Entendo que o que acontece não é resistência e sim medo, estranhamento, desconforto, desconhecimento. Por isso a necessidade de formação densa...

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