Hoje vou relatar uma
experiência que vivi durante a minha graduação, que foi a participação no
Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência - PIBID. O Instituto
Federal da Bahia - IFBA, campus Santo Amaro, tinha um projeto voltado para a
capacitação dos professores, de escolas municipais, estaduais e federais, para
a utilização das tecnologias digitais. Os ministradores dos cursos para a
formação dos docentes eram os bolsista do programa.
Trabalhar com educação
não é uma receita de miojo, que é rápida, fácil e prática. A educação é muito
complexa e envolve diversos fatores. Costumo dizer que a educação pode se
assemelhar com um efeito dominó, pois se uma das partes não vai bem, tudo
desmorona. E, assim, lhes digo que não foi nada fácil esse trajeto. Vamos
começar falando das pedras que encontramos pelo caminho. A primeira pedra foi a falta de infraestrutura das instituições
de ensino, pois as de âmbitos estaduais e municipais não possuíam internet e
nem computadores com boa conservação. Assim, como trabalhar em escolas em que
os dois elementos essenciais faltavam? Nós, como alunos do curso de
licenciatura em computação, dávamos o famoso "jeitinho" para que
algumas máquinas funcionassem para o desenvolvimento das atividades. A segunda pedra foi a resistência da gestão de
algumas escolas, muitas vezes dificultando a liberação dos professores para os
períodos de oficinas, eventos e cursos promovidos por nós. A terceira pedra foi
a resistência da maioria dos docentes em aprender a utilizar os recursos
digitais educacionais para utilizar em suas aulas, principalmente porque os
laboratórios de informática o sistema, que as máquinas possuíam, era o Linux
educacional 3.0, hoje já encontramos versões mais recentes desse sistema.
Algumas falas que recordo são: "Não sei nem o Windows quanto mais o Linux,
que é mais difícil."; "Já tenho tanto tempo na educação, estou perto
de me aposentar, não quero nem mais saber de computador."; " Os
meninos não se interessam, nem me preocupo mais.", dentre outras frases
essas foram as que mais ficaram marcadas. Entendemos por essas colocações que
muitos professores não têm a consciência do que é um sistema operacional livre
e que seu uso é também um ato político, que nos remete muito ao conceito de
produção de conteúdos de forma colaborativa, já que muitas versões de kernel
Linux são elaborados por grupos de pessoas de várias parte do mundo. A produção
desses sistemas é uma forma de compartilhamento de informações que chegam a um
resultado, que é o conhecimento.
Diante do entendimento
que alguns educadores não conheciam e possuíam uma grande resistência na
utilização do sistema operacional que estava presente nas máquinas que
funcionavam nas escolas, resolvemos capacitá-los para desconstruir a ideia que
somente o sistema operacional pago, o Windows, era mais fácil e melhor. Infelizmente
poucos professores aderiram a esse projeto.
Os que participaram, além de aprender a usar o Linux Educacional, conheceram
outros softwares livres para, por exemplo, construir vídeos, elaborar quiz,
caça palavras, jogos de perguntas e respostas e softwares para edição de texto,
criação de planilhas eletrônicas e elaboração de slides (LibreOffice).
Será
que os docentes possuem conhecimento da grande indústria que se tornou a venda
de produtos digitais? Será que eles possuem consciência que estamos pagando
para obter conhecimento? Acredito que falte políticas para capacitação dos
professores das redes de educação, formando-os criticamente, para libertá-los
da alienação, pois poucos professores sabem das grandes potencialidades e da
questão política e social que está por traz dos softwares livres.
Por
fim lhes digo que um programa de computador é um conjunto de instruções para
realização de uma ação, logo a construção parte de uma sequência lógica. Os
programadores, atualmente, compartilham partes de códigos que já foram
construídas e que funcionam corretamente, assim, por exemplo, um programador de
uma página web não precisaria construir um código para validação de CPF, pois
outros programadores já fizeram isso e disponibilizaram. O mesmo funciona com
códigos com erros, pois os programadores também disponibilizam esses algoritmos
para que outros desenvolvedores corrijam. Com isso percebemos que a construção
de um software é colaborativa, assim como deve ser a construção do conhecimento
em rede.
Referências:
BENKLER, Y. A economia política
dos commons. In: SILVEIRA, S (Org.). A comunicação digital e a construção dos
commons: redes virais, espectro aberto e as novas possibilidades de regulação.
São Paulo: Perseu Abramo, 2007.
BONILLA, Maria Helena.
Software Livre e Educação: uma relação em construção.PERSPECTIVA,
Florianópolis, v. 32, n. 1, 205-234, jan./abr. 2014.
Bacana a experiência Jessica. Só discordo de você quando afirma que os professores são resistentes. Entendo que o que acontece não é resistência e sim medo, estranhamento, desconforto, desconhecimento. Por isso a necessidade de formação densa...
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